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Comentários às leituras dos domingos e dos dias festivos

V Domingo de Quaresma

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Domingo 10 Abril 2011
Reflexões sobre as leituras
de
LUCIANO MANICARDI
A fé e o amor manifestam-se na Palavra com que Jesús ressuscita Lázaro: o escândalo e a loucura de chamar quem está morto e jaz no sepulcro é possível 

Domingo 10 Abril 2011
Ano A
Ez 37,12-14; Sal 129; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45

A passagem da morte à vida, centro da mensagem deste Domingo, é prelúdio, sobretudo com a Ressurreição de Lázaro, do evento Pascal que se aproxima. A Ressurreição aparece como um evento histórico: a morte dos filhos de Israel é o exílio na Babilónia que terminará para que o povo retorne à sua terra (1ª leitura); aparece como evento espiritual que caracteriza o crente que, deixando-se guiar pelo Espirito de Deus, passa da vida de carne (de egoísmo e do pecado) à vida em Cristo (2ª leitura); aparece como evento pessoal e corpóreo que conduz Lázaro a sair do túmulo ao ouvir a Palavra de Jesús (Evangelho). Os textos sublinham as três dimensões da morte: se apenas a morte de Lázaro é física, a morte espiritual de quem vive fechado egocentricamente e a morte simbólica do Povo deportado não são menos dramáticas e menos reais. 

 

A morte comunitária de que fala Ezequiel é a morte da Esperança: “...a nossa esperança desvaneceu-se; ficámos reduzidos a isto." (Ez 37,11). Também nós, nas nossas relações (uma amizade, um amor, um casamento,...) comunitárias e eclesiais podemos experimentar a morte da esperança, a ausência de um futuro. Contudo, o nascimento da fé na ressurreição e na esperança Pascal vem através da morte de outras esperanças. O Espírito criador é também o Espírito que dá vida e suscita esperança mesmo onde reina a morte.  Para Paulo, o homem que vive "na carne", na autosuficiência egoista, faz do coração o seu túmulo e é vítima da morte espiritual. Mas o Espírito da Ressurreição que força a impenetrabilidade da morte e faz esvaziar os sepulcros, pode penetrar as redomas individualistas e habitando o coração humano pode fazer renascer o homem para uma vida nova.  


 

O trecho evangélico é uma lição de pedagogia em torno da fé em Cristo, que é a Ressurreição e a Vida. O diálogo entre Jesús e Marta é centrado no crer: "Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá" (Jo 11,25); “Crês nisto?” (11,26); “Sim, ó Senhor; eu creio...." (11,27). Diante da insegurança e precaridade que a prespectiva da morte gera nas nossas vidas (“por causa da morte, nós, homens, somos como cidades sem muros": Epicuro), nós somos tentados a construir baluartes, defesas e barreiras que nos protejam dela. Por causa do medo, somos levados a ter um comportamento defensivo. E assim fazemos, também da vida, morte e escravidão (“...aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão" (Heb 2,15): procurando defendermo-nos da morte, afastamo-nos da vida. Jesús, pelo contrário, pedindo fé e confiança, pede que entremos no seu comportamento face à morte (“Eu já sabia que sempre me atendes,...”: Gv 11,42), comportamento que, enquanto assume a morte e sofre por quem está morto, faz também da morte, vida; vivifica a morte. A fé é o lugar da Ressurreição. A fé de Jesus é assim um magistério porque aprendemos a crer: “... mas Eu disse isto por causa da gente que me rodeia, para que venham a crer que Tu me enviaste." (Gv 11,42). Diz uma homilia de Pseudo Ippolito: “Tendo tu visto a obra divina do Senhor Jesús, não duvides mais da Ressurreição! Lázaro seja para ti como um espelho: contemplando-te nele, crê no despertar".

Se a fé é o lugar da Ressurreição, o amor é a força: Jesús amava muito Lázaro (Jo 11,5) e este amor fez-se visível no seu pranto (cf. 11,35-36). O amor integra a morte na vida e encontra sentido para esta no dom: dar a vida é dar vida. Ter fé em Jesus que é ressurreição e vida significa fazer do amor um lugar em que a morte é posta ao serviço da vida.  

A fé e o amor manifestam-se na Palavra com que Jesús ressuscita Lázaro: o escândalo e a loucura de chamar quem está morto e jaz no sepulcro é possível  graças à fé n'Aquele que ressuscita os mortos e ao amor -ao humaníssimo amor- que unia Jesús a Lázaro. O poder de ressurreição da Palavra de Jesús está todo na fé e no amor que ela contém.

 

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero 

IV Domingo da Quaresma

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Domingo 3 Abril 2011
Reflexões sobre as leituras
de
LUCIANO MANICARDI
No centro do IV Domingo da Quaresma está o tema da luz, da passagem das trevas à luz

Ano A

1Sam 16,1-4.6-7.10-13; Sal 22; Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

No centro deste IV Domingo da Quaresma está o tema da Luz, da passagem das trevas à luz expresso no evangelho com o episódio da cura do cego de nascença que tem implícita uma pedagogia de fé Cristológica. Na segunda leitura o tema tem uma valência baptismal e comporta implicações éticas: a luz baptismal induz a uma vida de conversão. (“É que outrora éreis trevas, mas agora sois Luz no Senhor. Procedei como filhos da luz..." Ef 5,8). Em paralelo com este anúncio a primeira leitura apresenta a unção real de David por parte de Samuel: o gesto e as palavras do profeta que consagram o Messias remetem para as palavras e para os gestos de Jesús "luz do mundo" (Jo 9,5), que dá a luz a quem está nas trevas, com gestos e palavras que invocam a dinâmica sacramental.

As três leituras levantam o problema do discernimento. Primeiro, o difícil discernimento de Samuel para escolher aquele que Deus elegeu entre os filhos de Jesse. Para discernir é preciso ver como Deus vê, consciente que "...o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração." (1Sam 16,7), ou, como diz a antiga versão siríaca: “o homem vê com os olhos, o Senhor vê com o coração”. Na segunda leitura é pedido ao baptizado que sendo "luz no Senhor" seja capaz de discernir o que agrada a Deus (cf. Ef 5,10-11). O texto evangélico abre-se com o olhar de Jesús e dos discípulos sobre um cego e prossegue com o percurso que leva o cego curado a discernir a verdadeira qualidade de Jesús e a confessar a sua fé n'Ele, enquanto outros se fecham a tal discernimento e permanecem na cegueira espiritual (cf. Jo 9,39-41).


 

No evangelho Jesús e os discípulos encontram um homem cego, mas olham-no diversamente. Cegos por um axioma teológico que liga de forma automática a doença ao pecado, os discípulos vêm nele um pecador enquanto Jesús vê na doença daquele homem ocasião para se menifestar a acção de Deus. A mesma pessoa e um olhar diametralmente oposto. Quem vemos quando nos deparamos com um doente? O que vemos no sofrimento do outro? O olhar culpabilizante dos discípulos opõe-se ao olhar solidário de Jesús. O texto apresenta-se como uma iniciação em que o homem que era cego recupera a vista e alcança a identidade de Jesús - um reconhecimento que é também um co-nascimento, um renascimento, o nascimento de uma vida completamente renovada pelo encontro com Jesús e expresssa de forma lapidária na confissão "Eu creio Senhor" (Jo 9,38).

O gesto terapêutico de Jesús sobre o cego, quando "...fez lama com a saliva..." (cf. Jo 9,7), recorda o gesto com que Deus criou Adão (cf. Gen 2,7). A re-criação não tem nada de mágico ou espiritualístico, mas tem uma valência humana e conduz aquele que era apenas objecto de palavras e de juízos dos outros a ser sujeito, a assumir a vida, a tomar a palavra e a reivindicar uma identidade: "Sou eu" (Jo 9,9). aquele "Sou eu" é essencial para poder dizer e proclamar com liberdade e convicção "Eu creio!". Tornar-se crente não exime de tornar-se homem. Antes, exige-o.

Diante do cego curado a primeira reacção é a dos conhecidos que fazem perguntas, interrogam mas não se interrogam, não se pôem a si próprios em questão e assim permanecem à superfície (vv. 8-12). O comportamento dos pais que, por medo, não vão além de uma banal constatação do facto (vv. 18-23). O saber teológico dos fariseus, um saber autosuficiente e impermeável, obtuso, que os leva a acusar Jesús (vv. 13-17) e o cego de serem pecadores (vv. 24-34) não se deixando interpelar pelo extraordinário evento. Quem é o cego e quem vê? Esta é a pergunta que o texto suscita. E esta a resposta: vê quem sabe ver a cegueira e abrir-se a acção de cura e de luz que Cristo oferece. “se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece." (v. 41).

 

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucaristia e Palavra
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero

 

III Domingo de Quaresma

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Domingo 27 Março 2011
Reflexões sobre as leituras
de
LUCIANO MANICARDI
O reconhecimento de Jesús como Senhor implica um caminho contemporâneo de conhecimento de si

Ano A

Ex 17,3-7; Sal 94; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

Depois da visão sintética da história da salvação através da memória de Adão e de Abraão nas primeiras leituras dos dois primeiros domingos de Quaresma do ciclo "A", os três próximos domingos, com as imagens da água, da luz e da vida apresentam a temática sacramental ligada à iniciação cristã.   

O dom da água no deserto que sacia a sede do povo durante o caminho do Êxodo é sinal da solicitude de Deus (I leitura); no evangelho o simbolismo da água evoca a acção do espírito e da Palavra, isto é, "o dom de Deus" (Jo 4,10) que dispõe a mulher a acolher o dom da fé; o dom do Espírito é sinal do amor divino no coração do Homem (II leitura).

O evangelho interpela o crente sobre a sede, sobre o desejo que existe em si. E sugere que a nossa sede mais profunda é de encontro e de relação. O encontro de Jesús com a samaritana começa com uma ousadia: "Dá-me de beber" (Jo 4,7). O encontro implica a coragem de quem se faz mendicante apresentando-se despojado ao outro . A mulher procura tirar água mas Jesús pede-lhe que lhe dê de beber. Interrogando-se sobre a pergunta que Jesús lhe faz, a mulher responde: "Senhor dá-me dessa água" (Jo 4,15). Esta pobreza partilhada constitui o ponto de partida do encontro. E o que mata a sede é o próprio encontro: Com efeito, segundo a narração, a mulher não chega a tirar a água do poço e Jesús não chega a bebê-la.

O encontro começa com um péssimo ponto de partida: a inimizade categórica (ou tradicional). Frente a frente não estão duas pessoas, dois nomes, duas biografias, dois sofrimentos, mas duas categorias: um judeu e uma samaritana (“Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou uma samaritana?" Jo 4,9). A coragem do diálogo, de lançar uma palavra entre si e a mulher permite o início de um caminho que conduz ao encontro e que guia a mulher à fé. O espanto da mulher (“Como?”: Jo 4,9) é o primeiro sinal do caminho da mulher para Jesús, mas que será também um caminho para dentro de si própria, um caminho interior; será a coragem de enfrentar a sua própria e profunda verdade.


 

Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz…” (Jo 4,10). Ninguém é apenas uma etnia ou uma categoria social. Da polaridade agressiva e hostil “nós” – “vós” (cf. Jo 4,20), passa-se ao envolvente “eu” – “tu”. Jesús chega a dizer-se e a dar-se com as palavras: “Sou Eu, que estou a falar contigo” (Jo 4,26). Jesús vence as barreiras identitárias que os Homens erguem e que, quando sedimentadas, se tornam por um lado uma segunda pele, uma identidade colada e, por outro, a lente (deformadora) com que vemos os outros rotulando-os com as nossas definições ou aprisionando-os com as nossas categorias. A identidade não é um dado fixo, antes surge do encontro com o outro. 

Momento importante no itinerário do encontro é aquele em que Jesús convida a mulher a passar da pergunta que lhe fez à interrogação que Ele próprio é (cf. Jo 4,10). O verdadeiro diálogo não impõe, mas suscita e aumenta o interesse recíproco. Nutre-se de perguntas novas mais do que respostas claras e definitivas.

O texto apresenta uma pedagogia para a fé em que a mulher reconhece Jesús como profeta (v. 19) e Messias (vv. 25-26.29) e assim se torna discípula, anunciadora de Jesús salvador do mundo (vv. 28-30.39-42). A mulher torna-se crente e evangelizadora. Mas, o caminho do reconhecimento de Jesús, como Senhor, implica um caminho contemporâneo de conhecimento de si mesmo em que, também, os aspectos moralmente mais problemáticos, aqueles que normalmente uma pessoa tem dificuldade de confessar a si própria, são reconhecidos. 

Só assim o encontro acontece na verdade. Ponto culminante e de verdade deste encontro é o momento em que a mulher recebe de Jesús a descrição de tudo aquilo que ela fez (v. 29). A história que ela escondia, por vergonha, a si própria, é substituida por outra que a acolhe e não a julga, levando-a a aceitar-se e a conhecer-se diante de Jesús.

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero 

II Domingo da Quaresma

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Domingo 20 Março 2011
Reflexões sobre as leituras
de
LUCIANO MANICARDI
Ouvir a Palavra de Deus significa descobrir a presença de Deus e acolhê-la em nós. Contudo, trata-se de uma presença que não está apenas no plano da representação, da percepção e do conhecimento

 

domingo 20 Março 2011

Ano A

Gen 12,1-4; Sal 32; 2Tm 1,8-10; Mt 17,1-9

A História da Salvação, que começa com a vocação de Abraão (I leitura), encontra em Jesús o seu ponto culminante, como confirmam Moisés e Elias no monte da Transfiguração (evangelho) e prossegue nos tempos da Igreja com a vocação santa divulgada no Evangelho de Jesús Cristo (II leitura). A obediência de Abraão abre o caminho para que se cumpra a promessa de Deus de fazer dele uma benção para todos os Homens (I leitura); na transfiguração a voz divina pede obediência a Jesús - o filho: "Escutai-O!" (evangelho); o evento pascoal é graça que pede ao crente obediência e o faz testemunha (II leitura).

No centro do episódio da transfiguração está a voz que vem da nuvem e que ordena a escuta de Jesús (cf. Mt 17,5). A reacção dos discípulos às palavras celestes é de escuta e temor: “Ao ouvirem isto, os discípulos caíram com a face por terra, muito assustados” (Mt 17,6). Esta passagem faz ecoar um texto do livro do Dt 4,32-33 que diz: “interroga...desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Pergunta se jamais houve, de uma extremidade à outra do céu, coisa tão extraordinária como esta,...Sabes, porventura, de algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha continuado a viver?." Hoje a expressão "escutar a palavra de Deus" é usada por todos e corre o risco de ser banalizada: escutar a Palavra de Deus é uma experiência temível, ultrapassa a leitura e a escuta das páginas bíblicas e não pode ser confundida com sinais dos tempos individualizados mais por via sociológica que por discernimento espiritual.

    Escutar a Palavra de Deus significa descobrir a presença de Deus e acolhê-la em nós. Contudo, trata-se de uma presença que não está apenas no plano da representação, da percepção e do conhecimento. É uma outra presença, é LUZ. É a presença luminosa que habita Jesús; que chega aos discípulos pela voz de Deus e que proclama, através das escrituras, a identidade messiânica de Jesús (“Este é o meu Filho”: Sal 2,7), servo (“Eis o meu servo, que eu amparo”: Is 42,1) e profeta (“...a Ele deves escutar!”: Dt 18,15). A escuta da palavra de Deus é temível também, porque conduz à mudança, à conversão; a mudar de vida fazendo da Palavra escutada o centro renovado e inovador da própria existência. A escuta da palavra de Deus é temível porque  (como acontece com Abraão, cf. Gen 12,1-4), implica um sair do campo das certezas e dos hábitos quotidianos para iniciar um caminho sem as seguranças humanas.


 

A experiência da Transfiguração de Jesús envolve também os sentidos dos discípulos: eles ouvem, vêem, são tocados por Jesús (Mt 17,7: “...Jesús tocou-lhes, dizendo:...”, registo apenas feito por Mateus). O corpo é o sujeito da experiência espiritual e os sentidos intervêm nessa experiência. Abrem-se à alteridade, ao outro, ao contacto com o mundo; os sentidos desenvolvem uma função incoativamente espiritual.

A transfiguração sugere-nos reencontrar a unidade da espiritualidade cristã saíndo dos dualismos com que tantas vezes foi conotada: interior-exterior, sentidos-espírito, corpo-alma, sensibilidade-interioridade...a separação entre corpo e espírito ou a sua confusão conduzem à morte de um ou de outro e sobretudo fazem desaparecer a autêntica experiência espiritual, que é experiência de todo o Homem. O crente ordena os seus sentidos com fé, "enxerta-os" em Cristo, treina-os na oração, deixa que sejam guiados pelo Espírito Santo e assim a sua experiência de Deus será integral. Assim foi para S. Agostinho no encontro que mudou a sua existência: "Chamaste-me e o teu grito rasgou a minha surdez; fizeste luz e o teu esplendor dissipou a minha cegueira; difundiste a tua fragrância e eu respiro e anseio por ti; provei e tenho fome e sede; tocaste-me e desejo ardentemente a tua paz." (Confissões X, 27-38)

 Não estamos diante de experiências místicas reservadas a eleitos, mas de experiências comuns de fé, do crente que, escutando a Palavra de Deus através das Escrituras, vê o rosto de Cristo, toca a Sua presença que lhe é oferecida, prova a consolação do Espírito, chora de compunção, respira o Seu respirar; do crente que vive, enfim, a Sua existência quotidiana, que é existência no corpo, sobre a luz transfigurante da graça.

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucarístia e Palavra
Textos para as celebrações eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero