XXIV domingo do Tempo Comum

 

Enquanto revela o caminho paradoxal de Deus ao encontro do homem, o caminho de Jesus torna-se também o escandaloso caminho que o discípulo deve seguir. A palavra que Jesus anuncia (“Jesus falava abertamente”: Mc 8,32 lett.) é sempre a escandalosa e paradoxal "Palavra da cruz” (1Cor 1,18) que muda os pensamentos e caminhos do homem (como o que acontece com Pedro: Mc 8,32-33). Na verdade, “os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55,8). Por isso é importante que Jesus permaneça para os crentes uma interrogação: “Quem dizeis vós que eu sou?” e não seja apenas uma resposta. Só assim Jesus será verdadeiramente o Senhor.

Aos discípulos e às multidões Jesus pede para renegarem-se a si mesmos, tomarem a sua cruz, perderem a vida (cf. Mc 8,34-35): palavras que vão contra a atual vaga espiritual-psicológica que reduz o cristianismo a dilatações de si mesmo e à procura de um bem estar interior. Mas tratam-se de palavras que, absolutizadas, distorcem bastante a visão da vida cristã tranformando-se em ponto de partida para neuroses e esquecendo que o centro da vida de Jesus e do crente é o amor, uma vida consumida livremente pelo amor até à morte. Jesus amou Deus e os homens, uma escolha sem retorno. A renúncia e a perda de Jesus, como do cristão, encontram sentido no seio deste amor. Renegar-se e tomar a própria cruz quer dizer renunciar a defesa e carregar os instrumentos da própria condenação à morte; ou seja, sair dos mecanismos de autojustificação e abandonar-se totalmente ao Senhor. Quando todos os apoios humanos escassearem e o sentido do caminho parecer indecifrável então a atitude que o Evangelho designa por "perder a própria vida", "tomar a cruz" revelar-se-ão essenciais para prosseguir o caminho com uma fé cada vez mais despida e autêntica.

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano B
© 2010 Vita e Pensiero 

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