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XXVIII Domingo do Tempo Comum

 

A parábola evangélica é uma espécie de visão teológica de uma fase da história da salvação. Ela fala alegoricamente do evento Pascal messiânico (as bodas do filho do Rei: v.2), da recusa feita aos missionários cristãos por Israel (os convidados indiferentes ou violentos até ao homicídio: vv. 3-6), da destruição de Jerusalém no ano 70 d. C. (o Rei irado que mata os assassinos e incendeia-lhes a cidade: v. 7), da extensão da missão cristã aos pagãos (os convidados que se encontram pelos caminhos: vv. 8-10), do juízo que pesa sobre a Igreja sobre os novos convidados (o homem que não tem o hábito nupcial: vv. 11-13). A Igreja, como Israel, está no horizonte do juízo.

A parábola joga com a dialética do dom e da responsabilidade. O convite é gratuito, mas empenha quem o recebe e exige resposta. O hábito nupcial significa o preço da graça. Há uma resposta que o interpelado é chamado a dar a um convite gratuito, uma sinergia em que deve participar. Muitos são os obstáculos que o homem coloca à chamada. Antes de mais a não-vontade: "...não quiseram comparecer"(v.3). Não basta ser convidado, é preciso querer responder, colocar a vontade ao serviço da chamada. A negligência e a superficialidade de quem não estima o dom recebido, de quem não colhe a preciosidade do dom e fecha-se num horizonte limitado, nos próprios afazeres (v.5). A agressividade e a violência de quem no convite dirigido ou no dom recebido vê apenas intrusão, não a liberdade e a liberalidade, condenando-se à reactividade e à rebelião. A não adesão de quem responde ao convite sem lhe corresponder de facto, sem permitir que o mesmo o transforme, sem entrar numa conversão efectiva (vv. 11-12). 

Um dos inimigos mais insidiosos e difusos da fé, mais temível até do que o ateísmo e a oposição aberta, é a indiferença. Bem expressa no v. 5 pelo desinteresse, pelo não fazer caso do convite recebido, pelo não lhe dar peso algum e por preteri-lo em relação à rotina, às pequenas ocupações, aos afazeres ao próprio interesse. A indiferença coloca o crente numa crise profunda porque diz da insignificância e da irrelevância da vida de fé. Mas, há medida que o crente cai no individualismo, na defesa dos seus interesses e no culto do lucro, também ele se esvazia da vida de fé, mostrando não ter vestido o hábito nupcial.   

LUCIANO MANICARDI

Comunidade de Bose
Eucaristia e Parola
Textos para as Celebrações Eucarísticas - Ano A
© 2010 Vita e Pensiero

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